Se em algum momento da sua vida, você não se sentiu boa o suficiente em disciplinas como matemática e tem dúvidas se a área de dados é para você, continue lendo esse artigo para entender um pouco da minha história e como me tornei analista de dados mesmo não vindo de uma formação tradicional em exatas ou tecnologia.
A menina que queria ser alguém na vida
Cresci em uma família onde meus pais não tiveram oportunidade de fazer uma graduação e precisaram começar a trabalhar muito cedo. Não diferente da realidade de muitos, eles sempre me incentivaram a estudar, a fazer uma faculdade para que eu fosse alguém na vida.
Estudei a maior parte dos anos em escola pública e era uma boa aluna. Não dava trabalho, tirava boas notas nas disciplinas que eu gostava como filosofia, biologia, português e inglês e aquelas que tinha maior dificuldade como física e matemática, conseguia pelo menos a média para passar de ano.
Eu nunca detestei matemática ou física, no fundo sempre adorei aprender, mas como tinha dificuldade, achava que não era inteligente o suficiente. Me lembro até hoje da sensação de acertar uma questão sem errar na primeira tentativa! Quando essa proeza acontecia, era possível ouvir um grito histérico e impulsivo comemorando uma pequena conquista.
Como naquele processo de aprendizagem eu mais errava do que acertava, comecei a acreditar que eu não tinha a habilidade natural para exatas. O que adiantava me esforçar para ser boa em algo que eu não aprendia rápido? Era perda de tempo.
Infelizmente eu vivia me comparando com meu irmão, mesmo sem querer. O caçula da família, dois anos de diferença, adiantado uma série na escola que só tirava notas altas nessas matérias , mesmo passando todas as tardes assistindo TV.
Ele tinha o dom e eu não. Ele era o mais inteligente, eu não. Não queria travar uma competição, tanto porque claramente eu ia perder… Quem gosta de perder? Quem gosta de não se sentir boa o suficiente? Queria apenas encontrar o meu dom e seria em outras áreas.
A escolha da faculdade
Desde os 15 anos eu já desejava fazer uma faculdade federal, pois somente assim teria a oportunidade de ser “independente”, morar fora da casa dos meus pais e aprender com a vida real.
No entanto, no meu consciente, eu sabia que não tinha condições intelectuais de ser aprovada nas matérias de exatas, pois o meu histórico escolar não era excelente, não tinha condições financeiras de fazer um cursinho para me preparar e desconhecia o conceito de mindset fixo, que anos mais tarde descobri que era esse meu problema.
Deixando de lado o que era possível ou não, naquela época eu pelo menos sabia de algo que eu era boa: analisar contextos, interpretar situações, prever padrões em comportamentos e encontrar oportunidades onde a maioria não enxergava. Tímida sim, porém boa de argumentos e inteligente o suficiente para conseguir as coisas que desejava muito.
O ponto de partida para escolha da faculdade foi avaliar as disciplinas que eu gostava e mandava bem e entender qual profissão me faria feliz, afinal ia passar o resto da vida trabalhando nela (doce ilusão). Depois de muita pesquisa e conversas com pessoas pelos grupos do falecido Orkut, cheguei a duas opções: marketing e turismo.
Na Federal, o mais próximo de marketing era Comunicação Social ou Administração, ambos vestibulares super concorridos. Quando pesquisei sobre o curso de Turismo, percebi que a concorrência era baixa, e como me encaixava no perfil de cotas, vi que ali tinha uma oportunidade para mim. Foi então que tomei uma das decisões mais importantes da minha vida baseada nos dados.
Diferente dos exercícios de matemática, na minha vida sempre tive mais acertos do que erros no que diz respeito as hipóteses que eu criava, e felizmente essa foi mais uma das que acertei. Aos 18 anos de idade, entrei para o curso de Turismo na Universidade Federal de Juiz de Fora na primeira tentativa do vestibular.
Confesso que tive muita sorte, mas também não posso negar que o pensamento analítico para tomar aquela decisão ajudou muito. Hoje eu vejo como isso faz parte do trabalho do analista de dados: criar hipóteses e validá-las.
A primeira Transição de Carreira
Quando fui aprovada mergulhei de cabeça em todas as oportunidades que só uma universidade federal podia oferecer: projetos, trabalho voluntário em empresa júnior e AIESEC, estágios dos mais diversos, intercâmbio, disciplinas de graça em outras graduações. O foco não era tirar as notas mais altas e ser a melhor aluna, mas sim experimentar e aprender o máximo de coisas possível para que eu pudesse descobrir na prática o que eu mais me identificava.
E foi nessa experimentação que confirmei o quanto eu gostava de tudo relacionado a negócios, projetos e marketing.
Com algumas experiências durante e após a graduação, decidi direcionar minha carreira para o marketing digital, onde fiz um curso livre de três meses e consegui realizar a primeira transição de carreira para um novo emprego.
Seis meses se passaram, saí desse emprego, comecei a trabalhar como autônoma e vivi uma outra experiência, a de ser dona do meu próprio negócio com meus próprios clientes.
Foram 03 anos intensos, nada fácil, muitos desafios e pressão por resultados. Trabalhava até meia noite e finais de semana, pois além de vender serviço, executava e ainda precisava aprender milhares de assuntos e ferramentas para melhorar minhas entregas.
Como descobri a área de Análise de Dados
Com a pandemia, muitas empresas tiveram que se adaptar ao trabalho remoto e com isso várias delas começaram a recrutar online.
Foi aí que surgiu uma oportunidade de trabalhar na área de Mídia de Performance como CLT em uma agência de Publicidade em São Paulo.
Mais uma vez, aqui foi a força do acaso e um misto de sorte! Eu não estava procurando emprego, pois ainda trabalhava com meu CNPJ e atendia clientes, mas como meu Linkedin estava preenchido e sempre me atualizava por lá sobre as demandas do mercado, eu acabei me aplicando nesta vaga apenas para verificar se meu currículo era atrativo. Nunca imaginei que seria contratada!
Aceitei a oportunidade da agência por se tratar de uma empresa que atende marcas nacionalmente e internacionalmente conhecidas e que eu poderia crescer profissionalmente com clientes de grande porte. Ao contrário dos clientes que atendia na época.
O nível de maturidade de negócio e investimento era muito maior , o que gerava maior volume de dados para ser analisado, e consequentemente maior capacidade de análise.
Foi aí que começou a minha busca insana sobre como analisar dados, Excel para análise de dados, como gerar insights e acabei me deparando com o termo Data Science.
Como me tornei Analista de Dados
Entre uma tarefa e outra, tive a ideia de mandar uma mensagem para uma colega da área de Dados que havia trocado alguns emails, pedindo por indicações sobre cursos e ferramentas sobre análise de dados.
Algum tempo depois ela me envia uma indicação da certificação de análise de dados da Laboratória e IBM, onde nos inscrevemos e fomos aceitas para participar.
Dado início ao programa, foram muitas trocas, aprendizados, descobertas e com tudo isso acontecendo comecei a expor meus projetos e insights no Linkedin, o que de certa forma me fez ser percebida pelas pessoas.
Enquanto isso no trabalho, manifestei meu interesse sobre os processos da área para o meu atual coordenador que me falou que haveria uma oportunidade para mim caso eu desejasse migrar de área.
Fiquei muito feliz com essa possibilidade, mas no primeiro momento eu agradeci o apoio, disse que era algo que eu pensava para o futuro mas que não estava preparada, já que não tinha um conhecimento avançado na parte técnica de SQL e Estatística. O medo de não ser boa o suficiente gritou mais do que minha vontade de ir para a área.
Não posso negar que também estava feliz na área de mídia, gostava do que eu fazia, estava me desenvolvendo, tinha acabado de ser promovida, recebia feedbacks positivos do cliente, já tinha um bom relacionamento com pessoas de outra equipe…Valeria a pena voltar a estaca zero em uma nova área?
Ao devorar o livro indicado por uma colega “Seja Egoísta com sua própria Carreira” , consegui enxergar que estava deixando passar uma oportunidade por medo de fracassar e foi aí que abri meu coração em relação as minhas inseguranças do lado técnico para o meu atual gestor.
Percebi que mesmo não dominando algumas ferramentas , ele enxergava em mim outras habilidades e competências que poderia contribuir para o time e aí que comecei a relembrar dos meus pontos fortes! Afinal em menos de 12 meses já tinha sido promovida no trabalho, não era atoa né?
E foi assim que há um pouco mais de dois meses que escrevo esse artigo me tornei uma Analista de Dados.
As 03 lições para se tornar um Analista de Dados
A primeira lição que tiro dessa história toda é que não somos perfeitos, nunca estaremos prontos, mas se somos curiosos, quase que aficionados por algo, já nos coloca em uma posição diferenciada.
A segunda lição é que nossa história importa, independente da formação que tivemos. Um time é composto por pessoas com diferentes características e habilidades. Explore o que você tem de bom enquanto evolui no que ainda te falta. Como sempre vai faltar algo, você sempre estará evoluindo.
A terceira e última lição é que a vida é aleatória, existe muito o fator sorte na jornada. Sorte de estar no lugar certo, com as pessoas certas e no timing certo. Mas atenção, a probabilidade da sorte bater na sua porta só será maior se você estiver minimamente preparado. E o mínimo para você (a depender da referência que você tem) pode ser o suficiente para começar.
Bom, agora se ainda resta alguma dúvida se a área de dados é só para quem veio de uma formação de exatas ou de tecnologia, saiba que como analista de dados, entendimento de negócio, comunicação, análise de contextos e pessoas são extremamente relevantes para o dia a dia. Esteja certa que, se o bichinho da curiosidade te picou, vai fundo e explore ao máximo possível. Existe um caminho cheio de oportunidades aguardando você passar.